Cuíca: o canto que cura a alma e afasta a melancolia
- Libna Alves
- 16 de jul.
- 3 min de leitura
Há um som que ecoa em minhas memórias de infância: o canto da cuíca! Um instrumento musical de percussão brasileiro, cujo som lembra o coaxar de um sapo ou o rugido de um animal. Ela é muito usada no samba, especialmente no samba-enredo das escolas de samba. Seu corpo cilíndrico, geralmente de metal, é coberto por uma pele animal e possui uma haste interna que, ao ser friccionada, produz vibrações únicas.
Sinto que sempre conheci a cuíca — sua sonoridade aquece meu coração, dissipa a melancolia e reconforta minha alma. Se me perguntarem como a descobri, não saberei dizer ao certo. Na TV, talvez? Lembro que, quando criança, ao passar pela sala, assistia aos desfiles de Carnaval e ouvia o ronco da cuíca, que me contagiava de alegria e vontade de brincar.
Na adolescência, comecei a solfejar seu som com mais atenção. Era um cucurú pra lá um cucurú pra cá… Quando o Carnaval se aproximava, meus ouvidos buscavam nas canções das escolas de samba aquele ronco característico. O tempo passou e, após o fim de um relacionamento em 2021, tive minha primeira crise depressiva. Em 2023, veio a segunda. Sim! duas crises. A melancolia tomou conta de mim, e o ronco da cuíca parecia ter sumido. Minha alma, outrora acalentada, estava em pedaços.

Ao retomar meu tratamento para depressão em 2024, minha alma foi se renovando pouco a pouco, e comecei a tocar tamborim em um grupo de samba aqui em João Pessoa. Até que, um dia, redescobri o chamado da cuíca dentro de mim e decidi: "Agora é a hora de aprender!"
Comprei minha cuíca em março de 2024 e, em janeiro de 2025, já estava tocando com o grupo Batucada de Bamba! Que alegria! Minha alma se reencontrou, e a melancolia se dissolveu. Sei que ainda sou movida por inquietações e angústias – talvez isso leve um tempo para mudar completamente. Mas a cuíca está comigo agora, e sempre que a toco, um sorriso largo se abre de um lado ao outro do meu rosto.
Diante de tudo isso, quero compartilhar esse instrumento e seu canto libertador, presente em diversos ritmos – do forró ao choro, da bossa nova ao axé. A seguir, convido você a mergulhar nesse som. Separe 20 minutinhos do seu dia para ouvir as músicas que indicarei e se deixar levar pelo ronco curativo da cuíca.
1. "Alvoroço" - Rachel Reis (Part.. BaianaSystem)
Uma celebração de ancestralidade e ocupação das ruas, essa música fala sobre a cura coletiva vivida no Carnaval. A cuíca aparece como fio condutor desse ritual, criando um transe emocional libertador. O vídeoclipe é tão envolvente quanto a canção! Dica extra: No álbum "Divina Casca", Rachel Reis explora ainda mais a cuíca em outras faixas imperdíveis.
2. "A Falta" - Falamansa
Um forró delicioso para dançar coladinho e acender a conexão a dois. A música convida ao contato físico, acalentando a alma e reforçando a sensação de pertencimento. E tem cuíca sim! Ela fecha a faixa com chave de ouro, harmonizando perfeitamente com zabumba, triângulo, sanfona e baixo. Ficou curioso? Dá o play e descobre esse final surpresa!
3. "Mais um Samba de Raiz" - Polyana Resende
A talentosa Polyana Resende, nossa pessoense, nos presenteia com esse samba dançante que começa com um ijexá cheio de gingado. A cuíca entra logo após um canto dengoso - quando aparece, transforma tudo: seu ronco suave e envolvente nos leva a um estado de puro êxtase dançante. Uma verdadeira viagem sonora que honra as raízes do samba e nos conectar com o momento presente, o aqui e agora.
4. “Bate Bola de Cavaquinho e Cuíca” - Ronaldinho da Cuíca
Ronaldinho da Cuíca faz o instrumento chorar, sorrir e falar! Nesse samba/jazz, o grave potente do violão de 7 cordas se mistura com solos de cuíca que brilham como um guia espiritual - capazes de te erguer do fundo do poço da melancolia. Coloque num som com boa caixa de grave e se deixe levar!
Viva a Cuíca!
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