Presença de capivaras em JP revela crise ambiental e campanha alerta sobre riscos e cuidados no convívio com os roedores gigantes
- JP Agenda
- 16 de jun.
- 3 min de leitura
Expansão urbana desordenada e poluição de rios transformam animais silvestres em vítimas do desenvolvimento predatório na capital paraibana

Elas conquistaram as redes sociais com sua expressão tranquila e comportamento pacato, sendo apelidadas carinhosamente de “capivárias”. No entanto, por trás da simpatia desses roedores gigantes, esconde-se um grave problema ambiental: a devastação de seus habitats naturais em João Pessoa, resultado da expansão urbana desordenada, da poluição de rios e do desmatamento acelerado.
A Invasão Urbana: Um Sintoma da Degradação Ambiental
A presença cada vez mais comum das capivaras em áreas urbanas não é uma simples “invasão”. Como explica Juan Mendonça, gerente executivo de Fauna Silvestre da Semas, foi a cidade que avançou sobre o habitat natural desses animais. A urbanização descontrolada, somada à destruição de matas ciliares e à poluição de rios como o Jaguaribe, tem deixado esses animais sem opções.
Dados alarmantes mostram que João Pessoa perdeu 224 hectares de áreas verdes apenas entre 2021 e 2022, segundo o estudo Global Forest Change. Em um período mais amplo, pesquisas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) apontam que 863 hectares foram desmatados nos últimos 20 anos, reduzindo drasticamente os espaços naturais para a fauna local.
A Crise dos Rios e o Impacto na Fauna
A degradação ambiental em João Pessoa atinge níveis críticos, como evidenciado pela recente audiência pública do Ministério Público da Paraíba (MPPB) sobre a poluição do Rio Jaguaribe. O lançamento irregular de efluentes, incluindo dejetos suínos, contaminou o rio, afetando não apenas a qualidade da água, mas também os ecossistemas que dependem dele. A Sudema atestou grave contaminação hídrica, em desconformidade com os parâmetros do Conama, o que impacta diretamente espécies como as capivaras, que dependem de ambientes aquáticos para sobreviver.
Megaprojetos e a Fragmentação de Habitats
O Polo Turístico de Cabo Branco, considerado o maior complexo turístico planejado do Nordeste, já desmatou 47 hectares de Mata Atlântica, conforme denúncias de ambientalistas. Moradores relatam o desaparecimento de espécies como tatus, tamanduás e aves como o jacu e o Alma-de-Gato. Tamanduás-mirins foram encontrados mortos, atropelados por máquinas durante as obras, evidenciando o descaso com o resgate da fauna.
A área do empreendimento está inserida no Corredor de Biodiversidade da Mata Atlântica, essencial para a dispersão de espécies. A fragmentação desses habitats isolou populações animais, dificultando sua sobrevivência e aumentando conflitos com humanos.
Capivaras: Vítimas de um Desequilíbrio Criado pelo Homem
As capivaras, que antes viviam em áreas naturais próximas a rios e matas, agora buscam refúgio em parques urbanos e margens poluídas. A ausência de predadores naturais, como onças (já extintas na região), e a oferta de alimentos em áreas urbanas as mantêm próximas das cidades, mas isso não significa que estejam seguras.
Além dos riscos de atropelamentos e maus-tratos, elas podem ser hospedeiras de parasitas como o carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa. O desequilíbrio ecológico agrava esses riscos, tanto para os animais quanto para a população.
Respeito e Conservação: O Caminho Necessário
A médica-veterinária Lilian Eloy reforça: “Capivaras não são pets. Elas precisam de ambientes naturais”. A solução não está em afastá-las das cidades, mas em recuperar seus habitats e frear a degradação ambiental.
Enquanto João Pessoa continua perdendo áreas verdes e sofrendo com a poluição de seus rios, a convivência com a fauna silvestre se tornará cada vez mais conflituosa. É urgente a implementação de políticas públicas eficazes de reflorestamento, proteção de rios e criação de corredores ecológicos, garantindo que animais como as capivaras – e tantos outros – tenham um lugar seguro para viver, longe dos perigos da urbanização predatória.
Se encontrar uma capivara ferida, não interfira: acione a Polícia Ambiental (190). Maltratar animais silvestres é crime. A preservação deles depende da preservação do meio ambiente como um todo – e essa é uma responsabilidade de todos nós.
Fontes:
Fontes Oficiais e Institucionais:
Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba (CRMV-PB)
Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Paraíba (Semas)
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
Ministério Público da Paraíba (MPPB)
Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema)
Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa)
Batalhão de Polícia Ambiental da Paraíba
Dados e Pesquisas Científicas:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censo 2022
Global Forest Change (Universidade de Maryland/Google)
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Denúncias e Reportagens:
Notícia de Fato (MPPB)e.
Mongabay
Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA)
Associação Paraibana Amigos da Natureza (Apan)
Legislação:
Resolução CONAMA 357/2005
Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998)
Fontes Adicionais (Contexto):
Ministério Público Federal (MPF-PB)






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